quarta-feira, fevereiro 23, 2011
Isto é o meu grito de desespero, que a voz rouca despede entre os lábios vacilantes. E quando o olhar não vê mais porque soçobrou nas lágrimas, nos versos de dor de Cecília Meireles.
Poema
Isto é o meu grito de desespero,
que a voz rouca despede entre os lábios vacilantes,
quando o olhar não vê mais porque soçobrou nas lágrimas.
Isto é o meu grito de desespero
pelas palavras enganosas, pelos caminhos imperfeitos,
pelas inverídicas luzes
que antes de mim deixaram sobre a terra
multidões e multidões.
Isto é o meu grito de desespero,
porque não há passagem, pelas criaturas,
para o meu pensamento inconciliável.
Isto é o meu grito de desespero,
porque eu vim para convivas preclaros
trazendo tudo que em mim cultivei
como um jardim para descanso no meio do mundo.
Isto é o meu grito de desespero,
caído quase como de sol.
Aqui o sentido das bençãos falece.
O coração muda-se em águia ou montanha.
E o sonho é de indiferença ou de carnificina.
Cecília Meireles
(1901-1964)
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