quarta-feira, junho 30, 2010

Este fundo de hotel é um fim de mundo, só falta a morte chegar. Ela me espia mal suspeitando que já morri quando o que eu fui morria, sente Bandeira.


Noturno do Morro do Encanto


Este fundo de hotel é um fim de mundo!
Aqui é o silêncio que tem voz. O encanto
Que deu nome a este morro, põe no fundo
De cada coisa o seu cativo canto.

Ouço o tempo, segundo por segundo,
Urdir a lenta eternidade. Enquanto
Fátima ao pó de estrelas sitibundo
Lança a misericórdia do seu manto.

Teu nome é uma lembrança tão antiga,
Que não tem som nem cor, e eu, miserando,
Não sei mais como o ouvir, nem como o diga.

Falta a morte chegar... Ela me espia
Nesse instante talvez, mal suspeitando
Que já morri quando o que eu fui morria.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

Mais sobre Manuel Bandeira em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira

3 comentários:

Papéis ONline disse...

de qual livro é essa poema de Bandeira, não conhecia e eu tenho todos

Anônimo disse...

O livro é Manuel Bandeira - Poesia Completa e Prosa -, Volume único, Editora Aguilar, 2009, Quinta Edição, Organização de André Seffrin, ISBN 978-85-210-0108-9,
à venda nas melhores livrarias.

O Editor

Wenuus disse...

Vir aqui é entrar na beleza no túnel do tempo da poesia, dos versos eternos cheio de razões e sentimentos.