quinta-feira, junho 03, 2010

Lá anda a minha Dor às cambalhotas, o Erro sempre a rir-me em destrambelho. Chora em mim um palhaço às piruetas, no sentimento de Sá-Carneiro.


Pied-de-nez


Lá anda a minha Dor às cambalhotas
No salão de vermelho atapetado -
Meu cetim de ternura engordurado,
Rendas da minha ânsia todas rotas...

O Erro sempre a rir-me em destrambelho -
Falso mistério, que não se abrange...
De antigo armário que agoirento reage,
Minh'alma actual o esverdinhado espelho...

Chora em mim um palhaço às piruetas;
O meu castelo em Espanha, ei-lo vendido -
E, entretanto, foram de violetas,

Deram-me beijos sem os ter pedido...
Mas como sempre, ao fim - bandeiras pretas,
Tômbolas falsas, carroussel partido...

Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)

Mais sobre Mário de Sá-Carneiro em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_S%C3%A1-Carneiro

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