quinta-feira, junho 03, 2010
Lá anda a minha Dor às cambalhotas, o Erro sempre a rir-me em destrambelho. Chora em mim um palhaço às piruetas, no sentimento de Sá-Carneiro.
Pied-de-nez
Lá anda a minha Dor às cambalhotas
No salão de vermelho atapetado -
Meu cetim de ternura engordurado,
Rendas da minha ânsia todas rotas...
O Erro sempre a rir-me em destrambelho -
Falso mistério, que não se abrange...
De antigo armário que agoirento reage,
Minh'alma actual o esverdinhado espelho...
Chora em mim um palhaço às piruetas;
O meu castelo em Espanha, ei-lo vendido -
E, entretanto, foram de violetas,
Deram-me beijos sem os ter pedido...
Mas como sempre, ao fim - bandeiras pretas,
Tômbolas falsas, carroussel partido...
Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)
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