terça-feira, junho 01, 2010

Nos versos de Affonso Romano de Sant'Anna, um corpo é mais que tudo. O corpo é onde, e a vida é quando.


Definição


1

Um corpo não é um fruto,
embora em tudo se assemelhem:
densa forma,
oculto gosto,
cinco letras
e um pressuposto
poder de vida.

Um corpo é mais que um fruto
que se plante,
que se colha
ou se degluta:

um corpo
é um corpo,
e um corpo
é luta.

Um corpo não é um potro,
embora assim se manifeste:
pêlos mansos,
membros ágeis,
sal na boca
e um desejo
verde pelos campos.

Um corpo é mais que um potro
que pelos prados
e currais se dome:
um corpo
é um corpo,
e um corpo
é fome.

Nem chama
que se anule,
nem espada
em duplo gume
ou máquina
de estrume.

Um corpo
é mais que tudo:
mais que a chave,
mais que a forma,
mais que o leme,
mais que o açude.

Um corpo
é mais que tudo:
é a própria imagem
que eu não pude.

2

O corpo é onde
é carne:

O corpo é onde
há carne
e o sangue
é alarme.

O corpo é onde
é chama:

O corpo é onde
há chama
e a brasa
inflama.

O corpo é onde
é luta:

O corpo é onde
há luta
e o sangue
exulta.

O corpo é onde
é cal:

O corpo é onde
é cal:

O corpo é onde
há cal
e a dor
é sal.

O corpo
é onde
e a vida
é quando.

Affonso Romano de Sant'Anna

Mais sobre Affonso Romano de Sant'Anna em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Affonso_Romano_de_Sant%27Anna

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