quarta-feira, maio 05, 2010
Sou nada, e entanto agora eis-me centro finito do círculo infinito de mar e céus afora. Estou onde está Deus, confessa em versos Manuel Bandeira.
Embalo
No balanço das águas,
Ao trépido pulsar
Da máquina, embalar
As persistentes mágoas
Das peremptas feridas...
Beber o céu nos ventos
Sabendo a sonolentos
Sais e iodados relentos.
Anseios de insofridas
Esperas e esperanças
Diluem-se na bruma
Como na vaga a espuma
- Flores de espumas mansas -
Que a um lado e outro abotoa
Da cortadora proa.
Azuis de águas e céus...
Sou nada, e entanto agora
Eis-me centro finito
Do círculo infinito
De mar e céus afora.
- Estou onde está Deus.
Manuel Bandeira
(1886-1968)
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