domingo, maio 30, 2010
De tudo quanto foi o meu passo caprichoso na vida, restará uma pedra que havia em meio do caminho. O resto se esfuma, no modesta pensar de Drummond.
Legado
Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
De tudo quanto foi o meu passo caprichoso
na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.
Carlos Drummond de Andrade
(1902 - 1987)
Mais sobre Carlos Drummond de Andrade em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade
(/code)
(code)
Marcadores:
Carlos Drummond de Andrade
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Quase ouso pensar que esse é o "melhor" dele. Eu e Rafael ficamos espantados! Lemos várias vezes, dissecamos o poema.
Soneto feito de pedras, pedras raras de beleza bruta e perfeição.
Postar um comentário