segunda-feira, julho 13, 2009
Mário de Sá-Carneiro ama Estela, a atriz, como nunca amou. Mas ela não o conhece nem conhecerá e nunca o amará.
A uma actriz
Amo-te, oh! formosa, oh! divinal mulher,
Oh! sol, oh! fada, oh! estrela, oh, Estela minha!
Do meu coração és tu a única rainha!
Por ti desafiava o próprio Lúcifer,
Os santos, Deus, o mundo...até o rei!
Amo-te Estela como nunca amei!
Só em ti penso, quando enfraquecer-me sinto
No meio d'esta vida em que não tenho fé!
Por ti, por ti, não julgues que te minto,
Crê que matava a minha mãe até!
Amo-te Estela com amor profundo
E tu nem me conheces (oh! como é o mundo!
Vê-se uma mulher e pela vez primeira
Atenta-se n'ela... é d'ela a nossa vida inteira!)
És uma célebre actriz por todos adorada,
Quando pisas o palco, Estela, fascinada
A platéia toda fica... e eu mais que ninguém
Louco... louco sim d'amor... e de furor também
Porque te adoro muito (não com 'sperança)
Oh! formosa, oh! divina, oh! gentil criança!
Vi-te no teatro, há tempo, inebriante
Uma peça representares. No mesmo instante
Como todos por ti, meu sol fui encantado!...
Nessa noute não dormi, em ti só eu pensei
E desde esse dia, Estela ouve:
Amei!...
O meu coração tinhas, sem querer, tu conquistado...
.......................................................................................
O teu olhar de fogo foi quem isto fez.
Eu não deixei um dia sabes de te ver
Estela, meu anjo e luz então desde essa vez!
Amo-te, amar-te-ei, oh! querida até morrer
Mas nunca, nunca; escuta: tu conhecerás
Quem isto sente e diz e...
nunca o amarás!
Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)
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