segunda-feira, julho 27, 2009

António Gedeão não encontrou sinais de negro, nem vestígios de ódio nas lágrimas daquela mulher. Apenas água e cloreto de sódio.


Lágrima de preta


Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima para analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterelizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é de costume:

nem sinais de negro
nem vestígios de ódio,
água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão
(1906-1997)

Mais sobre António Gedeão em
http://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%B3mulo_de_Carvalho

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