Esta é a tua safra
Minha filha, junto a teus irmãos não lamentem nem digam,
coitada da mamãe...
Ninguém é coitada, nem eu.
Somos todos lutadores.
Se souberes viver, aproveitar lições, escreverás poemas.
Teus cabelos brancos serão bandeiras de paz.
E viverás na lembrança das novas gerações.
Não te queixes jamais das mãos vazias que sacodem lama.
E pedaços rudes de um passado morto não sejam revividos,
sem mais empenho senão enxovalhar, ferir e destruir.
Recria sempe com valor
o pouco ou o muito que te resta.
Prossegue. Em resposta ao néscio
brotará sempre uma flor escassa
das pedras e de lama que procuram te alcançar.
Esta é a tua luta.
Tua vida é apagada. Acende o fogo nas geleiras que te cercam.
O tardio poema dos teus cabelos brancos.
Recebe como oferta as pedras e a lama da maldade humana.
Esta é a tua safra.
Cora Coralina
(1889-1985)Mais sobre Cora Coralina em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cora_Coralina
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