sexta-feira, maio 11, 2007

Cecília Meirelles lamenta que, por mais que a celebre, não lhe escuta a bela e interminável rosa. A bela que é e não sabe, porque não a escuta.


Segundo motivo da rosa


Por mais que te celebre, não me escutas,
embora em forma e nácar te assemelhes
à concha soante, à musical orelha
que grava o mar nas íntimas volutas.

Deponho-te em cristal, defronte a espelhos,
sem eco de cisternas ou de grutas...
Ausências e cegueiras absolutas
ofereces às vespas e às abelhas.

E a quem te adora, ó surda e silenciosa,
E cega e bela e interminável rosa,
que em tempo e aroma e verso te transmutas!

Sem terra nem estrelas brilhas, presa
a meu sonho, insensível à beleza
que és e não sabes, porque não me escutas...

Cecília Meirelles
(1901-1964)

Mais sobre Cecília Meirelles em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles

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