sexta-feira, janeiro 04, 2013

A lua diz adeus religiosamente e a esta hora tudo em Florbela revive. Saudades de saudades que ela não tem, sonhos que são os sonhos dos que ela teve.


Anoitecer

A luz desmaia num fulgor d'aurora,
Diz-nos adeus religiosamente...
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui...outr'ora...

Não sei o que em mim ri, o que em mim chora,
Tenho bençãos d'amor para toda a gente!
E a minha alma sombria e penitente
Soluça no infinito desta hora...

Horas tristes que são o meu rosário...
Ó minha cruz de tão pesado lenho!
Ó  meu áspero e intérmino Calvário!

E a esta hora tudo em mim revive:
Saudades de saudades que não tenho...
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive...

Florbela Espanca
(1894-1930)

Mais sobre Florbela Espanca em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca

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