sábado, setembro 24, 2011
Para Vicente de Carvalho, aqueles são olhos encantados, olhos pensativos que fazem sonhar, olhos tentadores da mulher amada, olhos abençoados, cheios de promessas. São olhos verdes.
Olhos verdes
Olhos encantados, olhos cor do mar,
olhos pensativos que fazeis sonhar!
Que formosas coisas, quantas maravilhas
em vos vendo sonho, em vos fitando vejo;
cortes pitorescos de afastadas ilhas
abanando no ar seus coqueirais em flor,
solidões tranquilas feitas para o beijo,
ninhos verdejantes feitos para o amor...
Olhos pensativos que falais de amor!
Vem caindo a noite, vai subindo a lua...
O horizonte, como para recebê-las,
de uma fímbria de ouro todo se debrua;
afla a brisa, cheia de ternura ousada,
esfolando as ondas, provocando nelas
bruscos arrepios de mulher beijada...
Olhos tentadores da mulher amada!
Uma vela branca, toda alvor, se afasta
balançando na onda, palpitando ao vento;
ei-la que mergulha pela noite vasta,
pela vasta noite feita de luar;
ei-la que mergulha pelo firmamento
desdobrado ao longe nos confins do mar...
Olhos cismadores que fazeis cismar!
Branca vela errante, branca vela errante,
como a noite é clara! como o céu é lindo!
leva-me contigo pelo mar... Adoante!
fímbria do horizonte onde te vais sumindo
e onde acaba o mar e de onde o céu começa...
Olhos abençoados, cheios de promessas!
Olhos pensativos que fazeis sonhar, olhos cor do mar.
Vicente de Carvalho
(1866-1924)
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