quinta-feira, setembro 08, 2011

No fantástico espaço suassuna, João Cabral de Melo buscou inspiração para louvar o autor de "A pedra do reino". Para que todos saibam que o Sertão não só fala a língua do Não.


A pedra do reino

                                         A Ariano Suassuna


1.

Foi bem saber-se que o Sertão
não só fala a língua do não.

Para o Brasil, ele é o Nordeste
que, quando cada seca desce,

que quando não chove em seu reino,
segue o que algum remoto texto:

descer para a beira do mar
(que não se bebe e pouco dá).

2

Os escritores que do Brejo,
ou que da Mata, tem o sestro

de só dar a vê-lo no pouco,
no quando em que o vê, sertão-osso.

Para o litoral, o esqueleto
é o ser, o estilo sertanejo,

que pode dar uma estrutur
ao discurso que se discursa.

3

Tu, que conviveste o Sertão
quando no sim esquece o não,

e sabes seu viver ambíguo,
vestido de sola e de mitos,

a quem só o vê retirante,
vazio do que nele é cante,

nos deste a ver que nele o homem
não é só o capaz de sede e fome.

4

Sertanejo, nos explicaste
como gente à beira do quase,

que habita caatigas sem mel,
cria os romances de cordel:

o espaço mágico e o feérico,
sem o imediato e o famélico,

fantástico espaço suassuna,
que ensina que o deserto funda.

João Cabral de Melo 
(1920-1999)

Mais sobre João Cabral de Melo Neto em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Cabral_de_Melo_Neto

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