quarta-feira, setembro 02, 2009
Em sua luta contra a obscuridade, Eugénio de Andrade diz que é pouco o que deseja. E desse pouco ele se despede.
Contra a obscuridade
Ensina-me, ensina-me como se faz
do barro essa canção,
essa luz que vi mudade em pedra
viva nos teus olhos.
Estou a falar de mim como se não fora
estrangeiro, o espinho
indolor da neve cravado na garganta.
Já não desço à pequena praça
onde cantam os anjos: o anel
caiu à água.
Aqui, dizem, morre-se melhor: o ar
é frio, o campo raso, roxo o orvalho.
É pouco o que desejo,
e desse pouco me despeço.
Eugénio de Andrade
(1923-2005)
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