terça-feira, fevereiro 26, 2008

Nos versos de Jorge de Lima, o homem deve se lembrar que é apenas um pobre esquimó entre o gelo da terra e a última noite que o libertou do mundo.


As palavras de despedida


E ouvirás em cada século que passa
um ruído que se perde no tempo;
e o último cometa que apenas passou ontem;
e os oceanos renovarem suas águas muitas vezes.
Verás várias constelações te enviarem seus raios e se extinguirem depois.
Confrontarás tua infância com a dos filhos do Sol.
Reconhecerás as estrelas que jogaram pedras
quando eras um simples homem nos caminhos da vida.
Recensearás como Abraão os astros que puderes contar.
Contemplarás a morte prematura das luas
e a vida misteriosa das estrelas.
Reconstituirás o jogo da criação e o trono da primeira mulher.
Avistarás centenas de milhões de eclipses se produzirem simultaneamente.
E centenas de milhões de labaredas em espiral subirem até o trono do Mestre.
E te lembrarás que eras um pobre esquimó entre o gelo da terra
e a última noite que te libertou do mundo.


Jorge de Lima
(1893-1953)

Mais sobre Jorge de Lima em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_de_Lima

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