terça-feira, fevereiro 19, 2008

Não trago Deus em mim, mas no mundo o procuro sabendo que o real o mostrará. E a hora da minha morte aflora lentamente, sente Sophia de Mello Breyner.


Poema

A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

Sophia de Mello Breyner

(1919-2004)

Mais sobre Sophia de Mello Breyner em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sophia_de_Mello_Breyner

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