sexta-feira, outubro 12, 2007

Paulo Mendes Campos diz que dois corações temos no peito. Mas não sabe se o que bate triste e certo vai reunir-se além ao visionário.


O visionário


Debaixo dos lençóis, a carne unida,
Outro alarme mais forte nos separa.
Vai ficar grande e feia a mesma cara
Com que surgimos cegos para a vida.
Vemos o que não vemos. Quando, erguida
A parede invisível, o olhar pára
De olhar, abre-se além uma seara
Muito real porém desconhecida.
São dois mundos. Um deles não tem jeito:
Cheio de gente, é só como o deserto,
Duro e real, parece imaginário.
Também dois corações temos no peito
Mas não sei se o que bate triste e certo
Vai reunir-se além ao visionário.

Paulo Mendes Campos
(1922-1991)

Mais sobre Paulo Mendes Campos em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Mendes_Campos

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