Canção de alta noite
Alta noite, lua quieta
Muros frios, praia rasa
Andar, andar, que um poeta
Não necessita de casa.
Fecha-se a última porta
O resto é o chão do abandono
Um poeta na noite morta
Não necessita de sono.
Andar, perder o seu passo
Na noite também perdida
Um poeta a mercê do Espaço
Nem necessita de vida.
Andar, andar, enquanto consente Deus
Que seja noite andada
Porque o poeta indiferente
Anda por andar somente
Não necessita de nada.
Cecília Meireles
(1901-1964)
Mais sobre Cecília Meireles em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles
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