sábado, janeiro 20, 2007

Clarice só queria entender um pouco, não demais. Ela queria pelo menos entender que não entendia.


Não entendo

Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco.
Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Clarice Lispector

(1920-1977)

Mais sobre Clarice Lispector em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Clarice_Lispector

Um comentário:

confetes disse...

Clarice entendia muito mais do que achava que entendia.
esse seu não entender era todo o entendimento.