sábado, dezembro 30, 2006

Não tendo mais os olhos de menina nem corpo adolescente, a poeta pode dar ao seu amor um mar cujas correntes não levam destroços.


Canção na Plenitude

Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força -- que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés -- mesmo se fogem -- retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

Lya Luft

Mais sobre em Lya Luft em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lya_Luft

Um comentário:

Marilac disse...

Oii José

Lya Luft expressa o que toda mulher madura gostaria de dizer..

Que possamos apreciar as qualidades que só a experiência, as perdas e os ganhos nos trazem

Adorei !!!
bjs
Marilac