quarta-feira, julho 01, 2015

Mortal e navegável. Assim é o amor para Eugénio de Andrade.


O amor


Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.

A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.

A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.

Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável.

A marcar sobre os teus flancos
itinerários da espuma.

Assim é o amor: mortal e navegável

Eugénio de Andrade 
(1923-2005)

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