quarta-feira, setembro 25, 2013

Por mais que eu seja bom, por mais que sejas boa, nunca te perdoarei, nunca me perdoarás. Vivi, sofri, amei, confessa Guilherme de Almeida.


Vivi, sofri, amei

Vivi. Quando cheguei, trazia os olhos cheios
da saudade de um céu que foi meu mundo antigo.
A vida me fez mau. E os homens por castigo,
odiaram-se. E eu também, porque eram maus, odiei-os.

Sofri. Tudo o que tive – ideais, sonhos, anseios –
naufragou numa pobre lágrima... E, comigo,
mais de um homem chorou, mais de um me disse: (“Amigo!”
A dor tornou-nos bons: perdoaram-me, perdoei-os.

Amei: vivi, sofri contigo. Em um segundo
resumimos a vida e, em nosso ninho, o mundo...
No entanto, a ti que amei, que o amor fez incapaz

de ódio – esse mal que é um bem, porque ele só perdoa -,
por mais que eu seja bom, por mais que sejas boa,
nunca te perdoarei, nunca me perdoarás!

Guilherme de Almeida
(1890-1969)

Mais sobre Guilherme de Almeida em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guilherme_de_Almeida

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