segunda-feira, setembro 09, 2013
Manoel de Barros escreveu 14 livros e deles está livrado. E confessa: noventa por cento do que escreve é invenção, só dez por cento que é mentira.
Auto-retrato
Ao nascer eu não estava acordado, de forma que
não vi a hora.
Isso faz tempo.
Foi na beira de um rio.
Depois eu já morri 14 vezes.
Só falta a última.
Escrevi 14 livros
E deles estou livrado.
São todos repetições do primeiro.
(posso fingir de outros, mas não posso fugir de mim).
Já plantei dezoito árvores, mas pode que só quatro.
Em pensamentos e palavras namorei noventa moças,
mas pode que nove.
Produzi desobjetos, 35, mas pode que onze.
Cito os mais bolinados: um alicate cremoso, um
abridor de amanhecer, uma fivela de prender silêncios,
um prego que farfalha, um parafuso de veludo etc etc.
Tenho uma confissão: noventa por cento do que escrevo é invenção;
só dez por cento que é mentira.
Quero morrer no barranco de um rio:
- Sem moscas
na boca descampada!
Manoel de Barros
(1916)
Mais sobre Manoel de Barros em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_de_Barros
(/code)
(code)
Marcadores:
Manoel de Barros
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário