terça-feira, fevereiro 19, 2013

O que Abgar Renault perdeu não foi um sonho bom. Ele perdeu, em sua carne e em seu pensamento, a última rubra flor do fim da mocidade.


Fim

O que eu perdi não foi um sonho bom,
não foi o fruto a embebedar meus lábios,
não foi uma canção de raro som,
nem a graça de alguns momentos sábios.

O que eu perdi, como  quem perde uma outra infância,
foi o sentido do enternecimento,
foi a felicidade da ignorância, foi, em verdade,
na minha carne e no meu pensamento,
a última rubra flor do fim da mocidade.

E dói - não esse gesto ausente, a que se apagam
as flores mais solares, mas uma hora,
- flor de momento numa bela aurora -
hora longínqua, esquiva e para sempre morte,
em cuja escura, inacessível porta
noturnos olham cegamente vagam.

Abgar Renault
(1901-1995)

Mais sobre Abgar Renault em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Abgar_Renault

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