Saudades
Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés
Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas
Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trêmula, raiz exposta
Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vazia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
que atormentam o meu sono.
Mia Couto
(1955)
Mais sobre Mia Couto em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mia_Couto
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