terça-feira, julho 10, 2012

Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui, na terra onde nasceste e eu nasci? Numa pergunta, todo o sentimento de Alexandre O'Neill pela sua cidade.


E de novo Lisboa...

E de novo, Lisboa, te remancho,
numa deriva de quem tudo olha
de viés: esvaído, o boi no gancho,
ou o outro vermelho que te molha.

Sangue na serradura ou na calçada,
que mais faz se é de homem ou de boi?
O sangue é sempre uma papoila errada,
cerceado do coração que foi.

Groselha, na esplanada, bebe a velha,
e um cartaz, da parede, nos convida
a dar o sangue. Franzo a sobrancelha:
dizem que o sangue é vida; mas que vida?

Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui,
na terra onde nasceste e eu nasci?

Alexandre O'Neill
(1924-1986)

Mais sobre Alexandre O'Neill em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_O%27Neill 

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