quarta-feira, fevereiro 29, 2012
Augusto dos Anjos foi cadáver, antes de viver. E quando morrer de novo, deseja que nada se altere em sua marcha infinda e a lua continue sempre a nascer.
Dolências
Eu fui cadáver, antes de viver!...
- Meu corpo, assim como o de Jesus Cristo,
Sofreu o que olhos do homem não têm visto
E olhos de fera não puderam ver!
Acostumei-me, assim, pois a sofrer
E acostumado a assim sofrer, existo...
Existo!... - E apesar disto, apesar disto
Inda cadáver hei também de ser!
Quando eu morrer de novo, amigos, quando
Eu, de saudades me despedaçano,
De novo, triste e sem cantar, morrer,
Nada se altere em sua marcha infinda
- O tamarindo reverdeça ainda,
A lua continue sempre a nascer!
Augusto dos Anjos
(1884-1914)
Mais sobre Augusto dos Anjos em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_dos_Anjos
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