quinta-feira, janeiro 05, 2012
Florbela Espanca era a desdenhosa, a indiferente. Nunca sentira nela o coração bater em violências de paixão.
Que importa?
Eu era a desdenhosa, a indiferente.
Nunca sentira em mim o coração
Bater em violências de paixão,
Como bate no peito à outra gente.
Agora, olhas-me tu altivamente,
Sem sombra de desejo ou de emoção,
Enquanto as asas loiras da ilusão
Abrem dentro de mim ao sol nascente.
Minh'alma, a pedra, transformou-se em fonte;
Como nascida em carinhoso monte,
Toda ela é riso e é frescura e graça!
Nada refresca a boca um só instante...
Que importa?... Se o cansado viandante
Bebe em todas as fontes...quando passa?...
Florbela Espanca
(1894-1930)
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