sábado, janeiro 28, 2012
Ensina-me, ensina-me como se faz do barro essa canção, pede Eugénio de Andrade em versos. É pouco o que deseja, e desse pouco ele se despede.
Ensina-me
Ensina-me, ensina-me como se faz
do barro essa canção,
essa luz que vi mudada em pedra
viva nos teus olhos.
Estou a falar de mim como se não fora
estrangeiro, o espinho
indolor da neve cravado na garganta.
Já não desço à pequena praca
onde cantam os anjos: o anel
caíu à água.
Aqui, dizem, morre-se melhor: o ar
é frio, o campo raso, roxo o orvalho.
É pouco o que desejo,
e desse pouco me despeço.
Eugénio de Andrade
(1923-2005)
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