segunda-feira, abril 11, 2011

Quem me quiser maltratar, quem me quiser renegar, quem me quiser esquecer, faça-o agora. É o que sente Cecília Meireles em seu pequeno mundo sem chaves, quase como uma sepultura.



Quem me quiser maltratar

Quem me quiser maltratar;
maltrate-me agora,
pois é tarde, e cansado
de trabalhos e penas,
quem se defende a esta hora?

Quem me quiser renegar,
renegue-me agora,
porque o meu sono é tão grande
que tudo aceito - nem sinto
se alguém se for embora.

Quem me quiser esquecer,
esqueça-me agora:
que eu não lamento nem sofro,
tonta do dia excessivo.
Tão sem força, quem chora?

(Noite imóvel, noite escura,
forrada de sedas suaves,
pequeno mundo sem chaves,
quase como a sepultura.)

Cecília Meireles
(1901-1964)

Mais sobre Cecília Meireles em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles

2 comentários:

Paula: pesponteando disse...

às vezes ler os versos de Cecília Meireles é tão dolorido. mas ao mesmo tempo, é bom, chega ser aliviante.

abraços

Paixão disse...

E quem é que já não esteve assim?