domingo, abril 24, 2011
Ao sentir de azul inocente os olhos do agiota, Álvaro de Campos admite que sempre teve, feliz ou infelizmente, a sensibilidade humanizada. E que toda a morte sempre lhe doeu pessoalmente.
Que lindos olhos
Que lindos olhos de azul inocente os do pequenito do agiota!
Santo Deus, que encontramento esta vida!
Tive sempre, feliz ou infelizmente, a sensibilidade humanizada,
E toda a morte me doeu sempre pessoalmente,
Sim, não só pelo mistério de ficar inexpressivo o orgânico,
Mas de maneira direta, cá do coração.
Como o sol doura as casas des réprobos!
Poderei odiá-los sem desfazer no sol?
Afinal que coisa a pensar com o sentimento distraído
Por causa dos olhos de criança de uma criança...
Álvaro de Campos, um dos heterônimos de
Fernando Pessoa
(1888-1935)
Mais sobre Fernando Pessoa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa
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