sábado, abril 02, 2011

Para Alberto Caeiro, o que nós vemos das cousas são as cousas. O essencial é saber ver, e nem pensar quando se vê, nem ver quando se pensa.


O que nós vemos das cousas 

O que nós vemos das cousas são as cousas.
Porque veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver qundo se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.

Mas isso ( triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendisagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.

Alberto Caeiro, um dos heterônimos de

Fernando Pessoa
(1888-1935)

Mais sobre Fernando Pessoa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa

Um comentário:

Sam. disse...

Ah que delícia esse blog!!
que time de poetas, escritores!
Parabéns pelo bom gosto na escolha dos poemas, das poesias...
lindíssimo tudo por aqui!!

Grande beijo!