quarta-feira, setembro 27, 2006

O Bocage sempre me surpreendeu, mas me encantou, confesso, o epitáfio encomendado para quando lá se perdesse a humanidade.


Lá quando em mim perder a humanidade


Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia – o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:

Não quero funeral comunidade,
que engrole sob-venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:

Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:"

Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou a vida folgada, e milagrosa:
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro."

Manuel Maria Barbosa du Bocage, o Bocage.
(1765-1805)

Mais sobre Bocage em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bocage

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