domingo, setembro 27, 2015
Minha mulher, a solidão, consegue que eu não seja triste. Ah, que bom é ao coração ter este bem que não existe, na ilusão de Fernando Pessoa.
Minha mulher
Minha mulher, a solidão,
Consegue que eu não seja triste.
Ah, que bom é ao coração
Ter este bem que não existe!
Recolho a não ouvir ninguém,
Não sofro o insulto de um carinho
E falo alto sem que haja alguém:
Nascem-me os versos do caminhos.
Senhor, se há bem que o céu conceda
Submisso à opressão do Fado,
Dá-me eu ser só - veste de seda -,
E fala só - leque animado.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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