segunda-feira, setembro 28, 2015

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, é preciso a saudade para eu te sentir. Mas nunca te pareces com o teu retrato e eu tenho que fechar os olhos para ver-te, lamenta Mario Quintana.


Presença

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento...
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, trevo machucado,
folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu te sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surgir és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho que fechar os olhos para ver-te!

Mario Quintana
(1904-1996)

Mais sobre Mario Quintana em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana

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