quinta-feira, junho 28, 2012
Era só um hábito antigo que aquele homem tinha. Mas foi terrível a vingança da porta, nos versos do parnasiano Alberto de Oliveira.
A vingança da porta
Era um hábito antigo que ele tinha:
Entrar dando com a porta nos batentes.
- Que te fez essa porta? a mulher vinha
E interrogava. Ele cerrando os dentes:
Nada! Traze o jantar! - Mas à noitinha
Calmava-se; feliz, os inocentes
Olhos revê da filha, a cabecinha
Lhe afaga, a rir, com as rudes mãos trementes.
Uma vez, ao tornar à casa, quando
Erguia a aldraba, o coração lhe fala:
Entra mais devagar.. - pára, hesitando...
Nisto nos gonzos range a velha porta,
Ri-se, escancara-se. E ele se vê na sala,
A mulher como doida e a filha morta.
Alberto de Oliveira
(1857-1937)
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