quarta-feira, junho 08, 2011
Para Florbela Espanca, é tão triste morrer em sua idade. Aos vinte e três anos, ela sente que ser-se novo é ter-se o Paraíso.
Dizeres íntimos
É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento da Saudade!
E logo vou olhar (com que ansiedade!...)
As minhas mãos esguais, languescentes,
De braços dados, uns bebês doentes
Que hão de morrer em plena mocidade!
E ser-se novo é ter-se o Paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!
E os meus vinte e três anos... (Sou tão nova!)
Dizem baixinho a rir: "Que linda a vida!..."
Responde a minha Dor: "Que linda a cova!"
Florbela Espanca
(1894-1930)
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