quinta-feira, dezembro 02, 2010

Leminski diz que pesa dentro dele o idioma que não fez. Aquela língua sem fim, feita de ais e de aquis.


O par que me parece


 Pesa dentro de mim
o idioma que não fiz,
   aquela língua sem fim
feita de ais e de aquis.
   Era uma língua bonita,
música, mais que palavra,
   alguma coisa de hitita,
praia do mar de Java.
   Um idioma perfeito,
quase não tinha objeto.
   Pronomes do caso reto,
nunca acabavam sujeitos.
   Tudo era seu múltiplo,
verbo, triplo, prolixo.
   Gritos eram os únicos.
O resto, ia pro lixo.
   Dois leões em cada pardo,
dois saltos em cada pulo,
   eu que só via a metade,
silêncio, está tudo duplo.

Paulo Leminski
(1944-1989)

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2 comentários:

Natália Nunes disse...

lindo!

Paixão disse...

não há nada que se compare à Leminski ...