quarta-feira, dezembro 29, 2010
Guimarães Rosa vai abrir sua janela sobre a noite. Para soçobrar no mar onde vêm morrer as almas afogadas e onde os deuses se olham como num espelho.
Lunático
Vou abrir minha janela sobre à noite.
E já bem noite, a lua,
alta a um terço do seu arco, terá de deslizar pelo meu quarto adentro,
e passear sobre o meu rosto, adormecido e lívido,
quando eu sair a sonhar pelas estradas noturnas,
sem fim, sem marcos, nem encruzilhadas,
que levam à região dos desabrigos....
Sonharei com mares muito brancos,
de águas finas, como um ar dos cimos,
onde o meu corpo sobrenada solto,
por entre nelumbos que passam boiando...
Ouvirei a rainha do País do Suave Sonho,
cantando no alto sempre o mesmo canto,
como a sereia do sempre mais alto...
E a janela se fecha, prendendo aqui dentro
o raio suave que prendia a lua...
Para que eu soçobre no mar dos nenúfares grandes,
onde remoinham as formas inacabadas,
onde vêm morrer as almas, afogadas,
e onde os deuses se olham como num espelho...
Guimarães Rosa
(1908-1967)
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Guimar%C3%A3es_Rosa
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