domingo, março 02, 2014

Nos carnavais de Bandeira, as cantigas eram sempre tristíssimas. Paixão, ciúme, dor daquilo que não se pode dizer e nada de éter na boca!


Na boca

Sempre tristíssimas essas cantigas de carnaval
Paixão
Ciúme
Dor daquilo que não se pode dizer

Felizmente existe o álcool na vida
E nos três dias de carnaval éter de lança-perfume
Quem me dera ser como o rapaz desvairado!
O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas
E gritava pedindo o esguicho de cloretilo:
- Na boca!Na boca!
Umas davam-lhe as costas com repugnância
Outras porém faziam-lhe a vontade.

Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados

Dorinha meu amor....
Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro:
- Na boca!Na boca!

Manuel Bandeira
(1886-1968)

Mais sobre Manuel Bandeira em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira

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