Na casa
defronte
Na casa defronte de mim e dos meus
sonhos,
Que felicidade há sempre!
Que felicidade há sempre!
Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não
vi.
São felizes, porque não sou eu.
São felizes, porque não sou eu.
As crianças, que brincam às sacadas
altas,
Vivem entre vasos de flores,
Sem dúvida, eternamente.
Vivem entre vasos de flores,
Sem dúvida, eternamente.
As vozes, que sobem do interior do
doméstico,
Cantam sempre, sem dúvida.
Sim, devem cantar.
Cantam sempre, sem dúvida.
Sim, devem cantar.
Quando há festa cá fora, há festa lá
dentro.
Assim tem que ser onde tudo se ajusta —
O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza.
Assim tem que ser onde tudo se ajusta —
O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza.
Que grande felicidade não ser eu!
Mas os outros não sentirão assim
também?
Quais outros? Não há outros.
O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,
Ou, quando se abre,
É para as crianças brincarem na varanda de grades,
Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.
Os outros nunca sentem.
Quais outros? Não há outros.
O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,
Ou, quando se abre,
É para as crianças brincarem na varanda de grades,
Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.
Os outros nunca sentem.
Quem sente somos nós,
Sim, todos nós,
Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.
Sim, todos nós,
Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.
Nada! Não sei...
Um nada que dói
Álvaro de Campos,um dos heterônimos
de
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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Um comentário:
Estava a procura de alguns poemas de Charles Bukowski quando encontrei esse blog. Me forneceu uma hora de leitura prazerosa que nem percebi passar.
Voltarei mais vezes!
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