sexta-feira, outubro 15, 2010
Para Ferreira Gullar, a morte não tem telefonemas que não vêm nunca, nem festas de aniversário, nem o vazio louco da vida, não tem falta de nada. A morte é nada, a paz do nada.
A morte
A morte não tem avenidas iluminadas
não tem caixas de som atordoantes
tráfego engarrafado
não tem praias
não tem bundas
não tem telefonemas que não vêm nunca
a morte
não tem culpas
nem remorsos
nem perdas
não tem
lembranças doídas de mortos
nem festas de aniversário
a morte
não tem falta de sentido
não tem vontade de morrer
não tem desejos
aflições
o vazio louco da vida
a morte não tem falta de nada
não tem nada
é nada
a paz do nada
Ferreira Gullar
(1930)
Mais sobre Ferreira Gullar em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferreira_Gullar
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