quinta-feira, novembro 12, 2015
Para Abgar Renault, a vida sempre tem uma faca na mão. Vai direto ao coração, dói em tudo, torna toda a poesia um jogo raso e inútil.
A vida tem uma faca na mão
Vamos parar de ler. Paremos de escrever
Olhos e mãos circulam no papel
ao serviço da dor e da desgraça,
mas as palavras são frias e sem fel
para exprimir o desespero dessa taça.
Ninguém sabe escrever. E ninguém pode ler
o que fica, depois de tanta luta fútil,
da escuridão desvirginada do teu ser
na indiferença de uma folha de papel.
Hoje, ontem, amanhã - amanhã sobretudo -
a vida sempre tem uma faca na mão,
vai sob as unhas, vai direto ao coração,
dói nos olhos, nos pés, dói na alma, dói em tudo,
torna toda a poesia um jogo raso e inútil.
Abgar Renault
(1901-1995)
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