quarta-feira, março 27, 2013
A casa que Eugénio de Andrade só tem no poema ergue-se pedra a pedra. Um dia a casa será bosque e ele encontrará a fonte onde um rumor de água será só silêncio.
Metamorfoses da casa
Ergue-se aérea pedra a pedra
a casa que só tenho no poema.
A casa dorme, sonha no vento
a delícia súbita de ser mastro.
Como estremece um torso delicado,
assim a casa, assim um barco.
Uma gaivota passa e outra e outra,
a casa não resiste: também voa.
Ah, um dia a casa será bosque,
à sua sombra encontrarei a fonte
onde um rumor de água é só silêncio.
Eugénio de Andrade
(1923-2005)
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