Comigo me desavim
Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo,
Não posso viver comigo,
Não posso fugir de mim.
Com dor, de gente fugia,
Antes que esta assim crescesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo,
Tamanho imigo de mim?
Francisco Sá de Miranda
(1481-1556)
Mais sobre Francisco Sá de Miranda em
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A1_de_Miranda
esse texto causa uma sensação de divisão interna,de um falta de unidade nesse individuo apresentado,sendo que ele se desentendeu consigo mesmo e não consegue mais viver junto a ele.
ResponderExcluirMas,de acordo com ele,seria inviavel uma escapatoria. Essa divisão o leva a um estado de temeridade, de vulnerabilidade, o deixa distante de um estado de segurança, que seria quando há uma unidade corporal.
muito bom esse poema!!
ResponderExcluirai está a analise!!
Impresionante! Um poeta nascido no final do século XV, morto na segunda metade do século XVI, ter criado polémica com um poema no século XIV!
ResponderExcluir"pois que trago a mim comigo..."
Muito boa a sua observação, Fernando! Estas coisas acontecem!
ResponderExcluirNo mais, esta dicotomia existe em todos nós, em diferentes graus, e Sá de Miranda colocou brilhantemente a questão neste poema.
Sem surpresa nenhuma, constato que este blog é, por assim dizer, um empório cultural. Clap clap clap!
ResponderExcluirAchei lindo, e me identifiquei muito com ele. É profundo e mesmo sendo um curto poema, é mais expressante do que muitos, que tem muitas palavras e não dizem nada. Ele desperta a dualidade que acredito eu que haja em todos nós, aquela que depois de um surto, acordamos pela manhã e dizemos: "Fui eu que fiz isso? Eu sou assim..."
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