domingo, setembro 30, 2007

Foram os filhos, confessa em versos Cora Coralina, que a carregaram, a alimentaram, foram fortes demais, unidade e agregação, semente e fruto.


Semente e fruto

Despojada. Apedrejada.
Sozinha e perdida nos caminhos incertos da vida.
E fui caminhando, caminhando...
E me nasceram filhos.
E foram eles, frágeis e pequeninos,
carecendo de cuidados,
crescendo devagarinho.
E foram eles a rocha onde me amparei,
anteparo à tormenta que viera sobre mim.
Foram eles, na sua fragilidade infante,
postes e alicerces, paredes e cobertura,
segurança de um lar
que o vento da insânia
ameaçava desabar.
Filhos, pequeninos e frágeis...
eu os carregava, eu os alimentava?
Não. Foram eles que me carregaram,
que me alimentaram.
Foram correntes, amarras, embasamentos.
Foram fortes demais.
Construíram a minha resistência.
Filhos, fostes pão e água no meu deserto.
Sombra na minha solidão.
Refúgio do meu nada.
Removi pedras, quebrei as arestas da vida e plantei roseiras.
Fostes, para mim, semente e fruto.
Na vossa inconsciência infantil.
Fostes unidade e agregação.

Cora Coralina

(1889-1985)

Mais sobre Cora Coralina em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cora_Coralina

Um comentário:

  1. Despojada. Apedrejada.
    Sozinha e perdida nos caminhos incertos da vida.
    E fui caminhando, caminhando..
    E me nasceram filhos.
    E foram eles, frágeis e pequeninos,
    carecendo de cuidados,
    crescendo devagarinho.
    E fora eles a ROCHA onde me amparei,
    anteparo à tormenta que viera sobre mim.
    Foram eles, na sua fragilidade infante,
    postes e ALICERCES, PAREDES e COBERTURA,
    SEGURANÇA de um lar
    que o vento da insânia
    ameaçava desabar.
    Filhos, pequeninos e frágeis...
    eu os carregava, eu os alimentava?
    NÃO. FORAM ELES QUE ME CARREGAVAM, QUE ME ALIMENTARAM.
    Foram correntes, amarras, embasamentos.
    Foram FORTES demais.
    Contruíram a minha resistência.
    Filhos, fostes PÃO E ÁGUA NO MEU DESERTO.
    Refúgio do meu nada.
    Removi Pedras, quebrei as arestas da vida e plantei ROSEIRAS.
    Fostes, para mim, semente e fruto.
    Na vossa inconsciência infantil.
    Fostes UNIDADE E AGREGAÇÃO.

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