O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, cansaço.
A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço, cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser... E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos, um dos heterônimos de
Fernando Pessoa
(1888-1935)Mais sobre Fernando Pessoa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa
ótimo poema; ótimo blog.
ResponderExcluirSIMPLESMENTE DEMAIS ESTE POEMBLOG, ando tão apixonada ki quando leio coisas tão lindas é difícil não me emocionar!! obrigda por existir!! bjos
ResponderExcluirEu adoro a poesia de Álvaro de Campos, muito especialmente este poema. Parabéns pela sensibilidade
ResponderExcluire capacidade de selecção. Se bem que em Fernando Pessoa a selecção é difícil...
Mais uma vez Parabéns!!!
Mto bom. Pode encontrar uma análise deste poema aqui: http://omj.no.sapo.pt/Forum/poema_o_que_ha_em_mim_e_sobretudo_cansaco.htm
ResponderExcluirObrigado.
Nuno.